terça-feira, 25 de abril de 2006

"TANTO SANGUE, TANTA DOR, TANTA ANGÚSTIA, UM DIA - MESMO QUE O TÉDIO DE UM MUNDO FELIZ VOS PERSIGA - NÃO HÃO-DE SER EM VÃO"


"CARTA A MEUS FILHOS SOBRE OS FUZILAMENTOS DE GOYA"

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.


(...)


Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia

- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -

não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objeto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.
mais...

Lisboa, 25 de Junho de 1959


Jorge de Sena

terça-feira, 18 de abril de 2006

EU VOU!

domingo, 16 de abril de 2006

BOA PÁSCOA




Fotos da zona envolvente da minha casa, ao fundo a "Civilização"...

sexta-feira, 14 de abril de 2006

COLORGRAPHIA XLI


Josefa de Óbidos (ou Josefa de Ayala)(1634? - 1684). "Calvário" de 1679, óleo sobre madeira.

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quinta-feira, 13 de abril de 2006

COLORGRAPHIA XL


Hans Holbein o Novo, "A Última Ceia" 1524-25.

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segunda-feira, 3 de abril de 2006

DISCOGRAPHIA IX



Em resposta ao post anterior encontrei na FNAC (por acaso) o CD "Frédéric Chopin Mazurkas, Valses & autres danses". Uma boa interpretação de Arthur Schoonderwoerd, mas a principal "atracção" deste disco é o som doce e cristalino do piano Pleyel de 1836.
Perguntam os leitores: qual a diferença entre o instrumento da época e os pianos actuais? A mesma que existe entre os pêssegos da nossa infância e os normalizados de hoje, os primeiros apesar das manchas na casca e da forma irregular tinham um sabor e um perfume que os segundos perderam quase completamente...

Excerto da Valsa em mi menor op. póstumo aqui.

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